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Por que Nintendo? (Parte 2)

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O surgimento de um novo universo

 

Cinco anos haviam se passado desde o meu primeiro contato com um videogame, no caso um Atari ou para ser mais específico, um clone dele compatível com todos os jogos mais famosos da época como Enduro, River Raid, Pitfall entre outros. Todos esses eram jogos muito legais e divertidos…por um tempo. O grande problema do Atari era que os jogos eram muito repetitivos e enjoavam logo, não estimulando muito a progressão e a exploração de novas fases e objetivos. Isso fez com que eu perdesse o interesse no console, se tornando apenas mais um brinquedo eletrônico que era utilizado de vez em quando, geralmente em ocasiões onde tinham amigos ou familiares presentes.

Posso dizer que em 1989 eu vivia muito bem com meus brinquedos, desenhos animados, gibis e brincadeiras com meus amigos de escola e condomínio. Isso tudo até eu voltar das férias de julho e ver alguns de meus amigos falando uma palavra que eu não entendia muito bem: Nintendo. O que era isso? O que fazia? Por que eu precisava saber disso? Meu melhor amigo da escola começou então a me responder essas perguntas e mesmo assim eu ainda não entendia a razão de tamanho fascínio e paixão em falar de um novo videogame. Até esse momento eu realmente não tinha tido contato com nenhum outro tipo de jogo eletrônico apesar de saber que existiam jogos de computadores como MSX, porém eu nunca tinha jogado e também não conhecia ninguém próximo que pudesse me mostrar.

Finalmente chegou o dia de ir na casa desse meu amigo (junto com outros da turma) e finalmente conhecer o que era esse tal Nintendo. Por sorte esse meu amigo tinha outros amigos no condomínio dele que também jogavam, portanto eles emprestavam muitos jogos uns para os outros e no dia que eu fui conhecer o videogame, muitos dos melhores jogos estavam ali à disposição de todos.

Primeiramente nós almoçamos, um belo almoço diga-se de passagem. Quando fomos liberados do almoço, sim, nessa época nossos pais nos diziam se já podíamos levantar da mesa ou não. Fomos correndo para a sala e lá estava ele, o Nintendo Entertainment System, O NES. Era o console americano, cinza e quadradão. Minha primeira observação foi ver como era diferente o encaixe do cartucho. Parecia que você estava enfiando uma fita de VHS no aparelho, pois era necessário inserir o cartucho na horizontal e não na vertical como estávamos acostumados com o Atari e seus clones. O primeiro jogo a ser jogado não poderia ser outro, Super Mario Bros. Foi nesse momento que eu comecei a entender o fascínio que muitos tinham por esse jogo ao mesmo tempo que eu mesmo era hipnotizado pelos gráficos, pelos pulos, pela velocidade, pelos itens, pelos mundos subterrâneos e também pela qualidade das músicas e efeitos sonoros. Aquele mundo do Mario realmente parecia mágico e cheio de caminhos diferentes que poderiam ser explorados por horas e horas a fio. Tudo isso em apenas um único jogo, imagina em tantos outros…

 

 Super Mario Bros. (1985)

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Ninguém ali era muito profissional no assunto, no sentido de ir avançando rapidamente as fases, era tudo muito novo e sem contar que os jogos do NES eram bem difíceis e levaria um certo tempo para pegar o jeito da coisa. Nesse dia eu joguei bem pouco, na maioria das vezes eu apenas observava, pois era muita informação nova e eu jamais tinha visto um controle daquele tipo. Para mim os controles de videogame eram todos semelhantes aos do Atari. O controle do NES tinha um direcional em forma de cruz, além de outros 4 botões (B, A, select e start).

Lembro que jogaram rapidamente um pouco de Super Mario Bros. 2, algo que me deixou ainda mais encantado. O jogo era ainda mais bonito do que o primeiro e ainda era possível escolher entre 4 personagens: Mario, Luigi, Toad e a princesa Peach. Cada um dos personagens tinha um tipo de jogabilidade diferente, fosse na velocidade ou no pulo. Somente muitos anos depois eu fui saber que esse jogo não era originalmente do Mario, mas sim outro jogo de plataforma japonês que foi adaptado para agradar o mercado americano. No Japão, o verdadeiro Super Mario Bros. 2 nada mais é do que uma versão do jogo original com fases e elementos diferentes porém com uma dificuldade muito elevada. Esse último ficou conhecido no ocidente como Super Mario Bros.: The Lost Levels. e foi lançado somente em 1993 após ser incluído na ótima coletânea de jogos do bigodudo, Super Mario All Stars do Super Nintendo.

 

 Super Mario Bros. 2 (1988)

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Ainda teve tempo para o primeiro jogo das Tartarugas Ninja. Parecia bem difícil, mas as cores vibrantes do jogo me deixavam cada vez mais hipnotizado com aquele novo universo. Era possível escolher com qual das 4 tartarugas jogar, aproveitando as armas ninja que cada uma delas tinha. Logo na primeira fase era necessário entrar em uma sequência correta de bueiros para se chegar ao final dela e enfrentar o primeiro chefe: Bebop. No próximo estágio, era necessário chegar ao topo da barragem para pular na água e enfrentar um enorme desafio para os iniciantes no NES: desarmar 8 bombas debaixo d’água tomando muito cuidado para não ser eletrocutado ou preso pelas algas marinhas. Para quem viveu essa época, com certeza vai se lembrar que o desenho animado das Tartarugas Ninja iria se tornar um fenômeno de popularidade mundial que posteriormente ganharia vários filmes. 

 

 Teenage Mutant Ninja Turtles (1989)

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A coisa ficou ainda mais séria com Castlevania I e II. Isso mesmo, os dois jogos estavam disponíveis para jogar nesse dia. Quem jogou um Castlevania em um console Nintendo nessa época sabe o quão especial foi a sensação vivida. Imagine o castelo do Dracula, cheio de ambientes e monstros diferentes, uma música sensacional e gráficos de cair o queixo. Pois é, você acabou de imaginar exatamente o que eu estava passando naquele momento.

 Castlevania (1987)

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O segundo jogo da série Castlevania era bem diferente. Ele não era linear e somente mais para frente eu descobriria a magia e o encanto desse jogo, no qual o objetivo era ressuscitar o Dracula para destruir uma maldição deixada por ele. Para isso era necessário explorar toda a Transilvânia, entrando em diversas dungeons, cavernas e cemitérios para recolher todos os restos mortais do Dracula. Que loucura, não? Bons tempos…

 Castlevania II: Simon’s Quest (1988)

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Estávamos chegando ao fim de uma tarde mágica, de imersão a um novo universo desconhecido, o qual mal sabíamos que se tornaria a forma de entretenimento mais lucrativa e poderosa do planeta, superando até mesmo a indústria cinematográfica.

Para fechar com chave de ouro, guardei esse jogo para o final desta coluna. Posso dizer com certeza de que foi esse jogo que me preparou para ser um bom jogador, pois ele era tão bem desenvolvido e desafiador ao mesmo tempo que qualquer um que fosse capaz de terminá-lo poderia se considerar um verdadeiro gamer profissional, ou pelo menos era assim que pensávamos na época. Estou falando de Ninja Gaiden. Não, não a versão 3D que os mais jovens conhecem do PS3 ou Xbox 360, mas sim a versão 2D side-scrolling.

Ninja Gaiden fez um estrondoso sucesso em seu lançamento. Foi uma verdadeira revolução nos jogos de plataforma hack-and-slash, isso sem falar no modo como a história era contada entre uma fase e outra, repletas de cinemática. A abertura do jogo já contava com dois ninjas correndo, saltando e duelando suas espadas em pleno ar em um cenário sombrio que ostentava nuvens e uma bela lua cheia gigante. Posso estar enganado, mas acredito que até então não havia nada igual nem na Nintendo e nem na concorrência, pelo menos não tão caprichado.

Logo na primeira fase era possível entender o porquê da revolução causada por Ninja Gaiden. O jogo já começa de forma frenética com o Ryu correndo de um lado pra outro, pulando, subindo em postes e telhados, dando cambalhotas sem parar enquanto sua katana (espada) dilacerava todo o tipo de inimigos. Essa habilidade de grudar nas paredes e ir subindo para níveis mais altos ainda seria aperfeiçoada nos 2 jogos seguintes para NES, mas já mostrava um grande diferencial para os outros jogos de plataforma daquela época. Ryu ainda podia coletar itens especiais ao longo das fases que lhe permitiam atirar desde estrelas ninjas normais até bolas de fogo contra os inimigos. A qualidade de design em todos os estágios era impressionante e funcionava com muita fluidez para que todas as habilidades disponíveis para o jogador fossem utilizadas de forma gradual. Nesse ponto entra um fator que poderia desestimular alguns jogadores mais casuais: Todos os três Ninja Gaiden para o NES eram muito difíceis, mas eu considero o original bem mais desafiador pois alguns elementos do jogo ainda não tinham sido totalmente desenvolvidos, algo que foi melhorando nos seguintes até atingir a perfeição no terceiro e último jogo para o console. Esse tipo de dificuldade espantava os jogadores mais curiosos ao mesmo tempo que incentivava os mais persistentes como eu. Felizmente, depois de alugar muito esse jogo e finalmente obter uma cópia para chamar de minha, consegui terminá-lo, o que me fez sentir encorajado para novos desafios dentro desse universo maravilhoso chamado Nintendo.

 

Ninja Gaiden (1989) 



Posso dizer com orgulho que todos os jogos aqui citados eu consegui acabar inúmeras vezes, com exceção do TMNT que terminei apenas uma única vez…que jogo difícil!!! Não era apenas a dificuldade do jogo em si, mas alguns erros de design e bugs tornavam a experiência agoniante e te levavam ao limite dos seus nervos. Quando cheguei na última fase, dentro do Technodrome, eu estava com o nervos à flor da pele e suando frio, tentando encontrar uma porta que me levasse ao final da fase. Finalmente encontrei e lá estava o Destruidor, que diga-se de passagem, não era nada difícil para meu espanto. Ele mal se mexia e com poucos golpes era possível vencê-lo. Até hoje custo a acreditar que conseguir chegar ao final do jogo e terminá-lo. Com certeza foi um dos mais difíceis do NES, junto com The Simpsons: Bart vs. the Space Mutants, Mission: Impossible e Battletoads…ah Battletoads, esse também fica para uma próxima história pois é possivelmente o mais difícil de todos. Digo de todos dentre aqueles que tem um mínimo de jogabilidade aceitável para poder progredir nas fases. Sim, alguns jogos são difíceis por serem mal feitos, com design ruim, péssima programação e diversos bugs.

Assim terminava aquela tarde mágica em um longínquo mês de agosto de 1989. Isso foi o suficiente para despertar em mim a vontade de ter um console Nintendo. E como não poderia deixar de ser, no Natal do mesmo ano, bem, eu não ganhei um NES propriamente dito, mas um clone nacional fabricado pela Gradiente: o Phantom System. Para minha surpresa, o Phantom tinha o encaixe de cartuchos de forma vertical, o que melhorava muito o funcionamento dos jogos, pois geralmente os jogos rodavam logo de primeira diferente no NES americano onde frequentemente era necessário tirar e por diversas vezes até funcionar. Os controles eram também mais ergonômicos do que os retangulares do NES. Mal eu sabia que os controles do Phantom tinham sido inspirados nos do Mega Drive. Daquele Natal em diante foram muitos anos jogando Nintendo 8 bits e a paixão pelo console era tanta que mesmo depois de ter ganhado um Super NES alguns anos depois, eu jamais deixaria de jogar meus jogos de 8 bits favoritos.

 

Phantom System (Gradiente), 1989



Bom, aqui termino a segunda parte dessa coluna Por que Nintendo?, contando como entrei nesse universo e nunca mais saí. Espero que tenham gostado deste texto recheado de nostalgia e nos encontramos novamente na próxima parada dessa jornada.

Comente abaixo como foi seu encontro com o NES ou no caso qual foi seu primeiro contato com um console Nintendo.

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